
Na Natureza, nada permanece igual. Ela sempre está em movimento.
Vento, água, pássaros, mamíferos, todos são dispersores das espécies vegetais neste planeta. A terra não rejeita nenhuma espécie, desde que ela se adapte ao ecossistema em questão. Quando planto mangas e abacates, milho e arroz no Brasil, estou plantando espécies que não são “nativas” da nossa terra. Mas a Terra os adota, e também os macacos, periquitos e araras os adotam. Quando planto eucaliptos, acácias, jaqueiras e figueiras, estou plantando espécies que não são “nativas” da nossa terra. Mas a Terra os adota, e também os macacos os adotam. Por que então eu vou condenar estas espécies? Porque vou julgá-las INDIGNAS dos nossos solos? Por que não podem graciosamente compartilhar o espaço com tantas outras nossas espécies, tais quais aroeiras e ipês, chichás e jacarandás?
Não existem fronteiras para as espécies vegetais. Se o ecossistema as adota, também eu as adoto. Ernst Götsch ensina que “quando um ecossistema entra em degradação, ele é automaticamente colonizado por espécies de ecossistemas menos favorecidos quanto a disponibilidade de água e nutrientes”. A colonização de um ecossistema por plantas de um outro ecossistema não é uma invasão, é uma substituição. Após tantos e tantos anos de degradação em um ecossistema, este já não consegue mais sustentar as espécies que um dia cresceram ali e, portanto, a área gradualmente perde sua cobertura vegetal, que um dia foi vigorosa. Isso é um problema, pois o solo não deve ficar sem cobertura vegetal. Por isso, outras espécies, ditas “invasoras”, colonizam o sistema, espécies estas que são mais aptas àquelas novas condições ambientais, pois vieram de ecossistemas naturalmente menos favorecidos.
Banir o plantio de eucaliptos, como se foi feito em Portugal, é discriminação contra uma espécie de planta. É racismo. Por que banir uma planta que magnificamente transforma luz solar e solos pobres em madeira de qualidade e matéria orgânica? Uma planta que tem o potencial de recuperar solos através de sua alta EFICIÊNCIA no manuseio dos recursos disponíveis em lugares pobres?
Você precisa trabalhar para enriquecer o seu solo, enriquecer o seu ecossistema, e deve buscar as espécies mais EFICIENTES para realizarem este trabalho, não importa se elas vêm da Austrália, da Nova Zelândia, da China ou do Egito. Boa parte dos solos do planeta estão em um estado de degradação avançado e as espécies locais já não dão conta de viver de maneira saudável nestes solos. Por isso, você deve buscar espécies de ecossistemas menos abastados do que o qual está trabalhando.
Esqueça esta história de “espécie exótica” e “espécie nativa”, e comece a pensar em “espécie adaptada às atuais condições neste ecossistema” e “espécie não adaptada às atuais condições neste ecossistema”. Você quer ENRIQUECER o seu solo e ENRIQUECER o seu ecossistema e COMER comida boa. Se o eucalipto pode fazer isso, se a leucena pode fazer isso, se a mamona pode fazer isso, se a banana pode fazer isso, se o milho pode fazer isso, utilize-os sem discriminação. E se você é um ambientalista irrecuperável que adora apenas espécies nativas, faça-me um favor: vá até a sua cozinha e jogue fora todas as maçãs, peras, bananas, arroz, cuscuz, pão, mingau de aveia, macarrão, carne de gado, carne de galinha, carne de porco, tangerinas, limões, melancias, vinho, cerveja, suco de uva, suco de laranja, chazinho de camomila, café, salaminho, queijo, mamões, mangas e abacates. Jogue tudo fora e da próxima vez que for no mercado compre só mandioca, abacaxi e maracujá.
Agora, se você entende que o mais importante é a saúde do ecossistema e não apenas a sua composição florística; que mais vale um agroecossistema muito bem coberto com matéria orgânica (mesmo que proveniente de plantas exóticas) e uma densa cobertura vegetal do que um solo exposto, coberto por árvores tortas e doentes; que devemos produzir alimentos ao mesmo tempo que enriquecemos o ecossistema, utilizando para isso diversas espécies vegetais em sistemas agroflorestais sucessionais multi-estratificados, INDEPENDENTE da proveniência das ditas espécies, você está absolvido e vai pro céu.
Não seja racista.
Na próxima semana, Lei #5: “ESQUEÇA SUSTENTABILIDADE. ENRIQUEÇA SEU SISTEMA”.
Vai ser polêmico, porque vou sugerir que você jogue a sustentabilidade na privada.
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