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Foto do escritorFelipe Caltabiano

Lei da Agrofloresta #9: VEJA A FLORESTA COMO UM FILME, NÃO UMA PINTURA.




Certa vez, após fazer algumas podas no jardim da minha namorada para um plantio, ela me falou (parafraseio): “Compreendo a importância das podas quando você está iniciando um Sistema Agroflorestal em uma área abandonada. Mas uma vez que a árvore está bem estabelecida e com uma bela copa, tenho pena de podá-la”.

Esse sentimento é comum a todas as pessoas que se deparam com um profissional de agrofloresta dizendo: “ÁRVORE PODADA TRABALHA MAIS!”. Muitos não querem podar porque têm dó da árvore, pensam que a árvore é linda como está e que todas as árvores são importantes, sagradas e intocáveis. Esse pensamento está muito bem, desde que não interfira com o fluxo do macro-organismo ao qual a árvore pertence.

ÁRVORE NÃO É MUSEU

Quando olha para a floresta, a maioria vê uma pintura. O profissional de agrofloresta vê um filme. A maioria vê árvores estáticas. O profissional de agrofloresta vê o fluxo da vida através delas. Você deve aprender a ver a beleza do fluxo e não do estado, pois o estado é uma ilusão. A árvore e a floresta não são apenas o que vê frente aos seus olhos, mas sim energia, vida, o próprio Ser e, como tal, se beneficiam de distúrbios periódicos. Elas são anti-frágeis*.

Treine para enxergar a real essência do fluxo da vida e não as formas estáticas. O profissional de agrofloresta não vê o estado da árvore, vê o movimento da árvore. E para além disso, ele vê o movimento do sistema do qual a árvore participa. Quando estuda uma área a ser trabalhada, ele enxerga o fluxo de recursos e energia. Antes de podar a árvore, já está vendo a rebrota, a matéria orgânica no chão, o enriquecimento do sistema.

NADA NUNCA SE MANTÉM IGUAL

A Natureza provê aos organismos 2 caminhos cíclicos de mudança: o de enriquecimento e o de empobrecimento (XXLINK). Há sempre um, e apenas um, ciclo acontecendo em determinado momento em qualquer ecosistema. Não há meio termo, não há nada estático, sem movimento. Mesmo uma rocha está enriquecendo-se ou empobrecendo-se. Enquanto é magma sendo lançado das profundezas da Terra ou sedimentos sendo compactados na superfície do planeta, a rocha está se enriquecendo. Enquanto está no leito do rio, ou no alto da montanha sendo vagarosamente erodida, está em um lento ciclo de empobrecimento.

A floresta necessita de distúrbios periódicos para se manter em um ciclo de enriquecimento constante. A Natureza faz isso através de furacões, raios, vulcões, cipós, cupins, ciclones e enchentes. O profissional da agrofloresta faz isso usando a motoserra, o serrote, o trator, o facão, a foice e a roçadeira. Ele potencializa o ciclo de enriquecimento e reverte o ciclo de empobrecimento.

Não é fácil para nós, seres humanos, enxergarmos o fluxo em organismos de ciclo de vida muito longo e crescimento lento, tais como a floresta. Quanto mais longo o ciclo de vida, mais difícil compreendermos os movimentos fisiológicos de tal ser. Mas através de trabalho constante na arte de se podar florestas, qualquer um pode, aos poucos, recuperar sua habilidade inata de ver a floresta como um filme e não uma pintura.


*Anti-frágil: termo cunhado por Nassim Taleb, refere-se a qualidade daquilo que se beneficia de dirtúrbios.

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